Por Que Desistir de Ser Perfeita Foi o Melhor Presente Que Me Dei

Minha história de perfeccionismo

Eu nasci achando que tinha que fazer tudo perfeitamente. Desde criança, era aquela aluna que decorava conteúdos e revisava tudo até perder a voz — “se não for impecável, não vale”, eu pensava. No trabalho, vivia planejando cada tarefa em detalhes; em casa, comparava meu corpo com padrões impossíveis vistos nas redes; até na maternidade (quando ela chegou) me cobria: tinha que dar conta de tudo, ser alegre e ainda manter a casa impecável. Só mais tarde descobri que essa busca insana por perfeição me fazia mal — e, ironicamente, me impedia de ser verdadeiramente feliz.

Confesso que me surpreendi quando li a definição de perfeccionismo em uma matéria da UFMG: perfeccionismo é “a tendência a estabelecer metas e padrões de desempenho muito altos e rígidos, perseguidos mesmo que causem problemas” para a própria pessoa ou para quem está ao redor. Era exatamente eu: metas inalcançáveis, sempre buscando resultados melhores e sentindo que nada que eu fizesse era bom o bastante. Outro trecho me marcou: descreviam como a experiência de um perfeccionista é cercada de “pensamentos extremamente autocríticos” e emoções intensas de vergonha, culpa e ansiedade. Caramba… aquela era a minha vida.

O peso da perfeição no dia a dia

Essa cobrança exagerada me atingia em tudo. No dia a dia, eu dividia cada minuto entre tarefas profissionais e pessoais, me sentindo culpada assim que tirava uma folga. Se algo fugisse do meu controle, achava que tinha fracassado. E não era raro cancelar um encontro com a família só para arrumar um armário. Sentia um aperto no peito enorme quando algo simples saía errado — como derramar café na roupa ou esquecer um prazo — porque meu “radar interno” dizia: não sou boa o suficiente.

Fiz escolhas drásticas: cortei lazer e até repouso, porque sentia que “perder tempo” me afastava do ideal. No trabalho, procrastinava: muitas vezes evitava iniciar projetos maiores, com medo de que eu não tivesse competência para entregá-los “perfeitamente”. E, quando trabalhava demais para cumprir tudo, me esgotava física e emocionalmente, quase beirando o burnout. Estudos confirmam que isso é comum: uma análise da psicologia do esporte mostrou que estipular metas inatingíveis ou ficar obcecado em não errar leva ao lado sombrio do perfeccionismo. O resultado? Exaustão no trabalho e ansiedade para tudo. Li também que “os efeitos negativos do perfeccionismo podem ser mais notados no trabalho”, justamente porque sempre somos cobradas a buscar promoções e reconhecimento, muitas vezes sem apoio ou gratidão. Eu me reconheci ali: trabalhando madrugada a dentro e ainda não me sentindo valorizada.

No cuidado com o corpo então… que loucura. As fotos perfeitas que via na internet — corpos esguios, pele sem uma marca — me fizeram sentir feia. Eu seguia dietas extremas, calibrando cada refeição, e sempre me sentia um fracasso em frente ao espelho. Não é à toa que a psicóloga Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva alerta: a pressão estética pode gerar ansiedade, depressão e até transtornos alimentares. Eu, que já vivia ansiosa, somava a essa carga um profundo sentimento de inadequação. Minha autocrítica era impiedosa. Nas redes sociais, cada selfie era comparada mentalmente ao padrão, e eu me julgava incapaz de alcançar aquela “beleza ideal”. Essa comparação constante só fazia surgir mais ansiedade: como explica Ana Beatriz, a comparação social através da internet tende a nos fazer sentir que nossa aparência não é suficiente, aumentando ainda mais a pressão e a insegurança.

Ser mãe não tornou as coisas mais fáceis. Muito pelo contrário. Logo percebi que existe um ideal de “mãe perfeita” na sociedade: aquela que está sempre presente para cada demanda dos filhos e não diminui em nada seu empenho no trabalho. Eu queria ser supermãe — tinha casa impecável, almoço caseiro e ainda sorria em todas as fotos com o bebê no colo. Mas a Dra. Lívia Castelo Branco, psiquiatra especialista em saúde mental materna, explica que isso só gera frustração. Ela diz que somos cobradas a conciliar carreira, tarefas da casa, cuidar do filho e manter um corpo “perfeito e sorridente” pelas redes sociais. Não deu outra: a cada falha em atingir essas expectativas, eu me sentia culpada e ainda mais sozinha, pensando que era “menos mãe”. Ela alerta que essa solidão e falta de apoio muitas vezes aumentam o risco de ansiedade e depressão pós-parto. E pior: a culpa de não ser essa mãe ideal pode atrasar o pedido de ajuda. Segundo a Dra. Livia, muitas mulheres simplesmente empurram a necessidade de procurar tratamento porque sentem vergonha de precisar de apoio. Eu vivi um pouco desse medo: achei que ceder à ajuda seria “fracassar” como mãe, até que entendi que cuidar de mim também é cuidar dos meus filhos.

Nos meus relacionamentos pessoais, também era um desafio. Tentava organizar desde festas de aniversário a pequenas reuniões com amigos, porque achava que só assim podia demonstrar cuidado. Mas essa ideia de “tudo perfeito” me fazia perder momentos preciosos: em vez de rir, ficava ansiosa pensando se a comida estava boa, se a casa estava limpa, se falava demais ou de menos. Acabei frustrando pessoas próximas que, na verdade, queriam me ver feliz e relaxada — e não julgando cada detalhe. Até aqui, as consequências foram sérias: pesquisas apontam que o perfeccionismo em excesso dificulta as relações interpessoais e nos deixa travadas diante de imprevistos. Eu percebi isso do jeito mais difícil: evitando vivenciar bons momentos, por medo de estragá-los, só afastei quem queria o melhor para mim.

Aprendi que errar é humano

Tudo mudou quando caí em mim: a perfeição que eu buscava não existe, e essa cobrança toda só me deixava infeliz. Depois de um colapso no fim do ano passado — 3 dias seguidos trabalhando sem parar — decidi que já era. Era hora de soltar um pouco as rédeas. Comecei devagar, tentando uma pequena aventura: deixar de revisar cada email 10 vezes e, sem cerimônia, enviar apenas “de primeira” para ver o que acontecia. Para minha surpresa, nada de catastrófico ocorreu.

A partir daí, fui lendo e ouvindo coisas que me encorajaram. Vi um artigo dizendo o óbvio que eu não queria enxergar: vivemos numa sociedade que glorifica a perfeição, mas a falha é uma realidade para todos e nossos erros são justamente alicerces da sabedoria. Leia só que alívio: especialistas em psicologia alertam para o quanto a pressão constante para não falhar pode destruir nossa saúde mental — levando a depressão, ansiedade crônica e outras angústias. Isso bateu forte comigo, que pensava que nunca podia fraquejar. Eu vi ali que errar não é vergonha, é parte da vida.

De verdade, memorizei uma frase de um colunista português: “Errar é humano, e evoluir é a verdadeira perfeição. O erro não é o fim do caminho, mas uma parte inevitável e enriquecedora da caminhada”. Todo dia eu repetia isso mentalmente antes de tomar decisões. Assim, comecei a permitir uma leveza. Quando cometia um deslize no trabalho, em vez de entrar em pânico, pensava: “Ok, vou aprender com isso.” Se minha filha derramava suco na mesa, agora eu enxugava, ria da bagunça e tudo bem. Cada tombo se tornou uma chance de recomeçar e aprender algo novo, não o fim do meu mundo.

Vulnerabilidade como força

Surpreendentemente, ao desistir de ser perfeita, descobri forças novas dentro de mim. Fui deixando cair as máscaras. Chegou um momento em que contei a minha chefe (que quase me idolatrava) que eu não sabia fazer determinada tarefa perfeitamente — e ela apenas sorriu, colocou a mão no meu ombro e disse: “Estamos aqui pra aprender, relaxa”. Esse momento simples de transparência me fez perceber: era mais humano admitir fraquezas do que fingir saber tudo.

Percebi também que expor minhas falhas aproximou as pessoas de mim. Contei aos meus amigos sobre uma gafe enorme que cometi na última reunião de trabalho e, ao invés de serem críticas, riram comigo. Minha amiga Mariana me disse que já fez coisas piores e que ninguém esperava perfeição dela. Isso me fortaleceu. Hoje entendo que ser vulnerável não é sinal de fraqueza, mas de coragem — algo que a pesquisadora Brené Brown exalta. Ela diz que carregar o perfeccionismo como escudo (e chamar isso de proteção) na verdade nos impede de sermos vistas como somos. Quando aceitei minhas imperfeições, deixei de arrastar aquele “escudo de vinte toneladas” que ela descreve. Isso foi um grande presente.

Aprendi que, na verdade, aceitar ser “suficientemente boa” é um forma de autocuidado e autenticidade. Essa frase de Brené Brown virou mantra para mim. Era o que eu precisava: parar de fingir perfeição e começar a me tratar com mais gentileza. Eu mesma percebi: quantas vezes fui ríspida comigo na frente do espelho, dizendo que eu deveria ter sido diferente? Agora converso comigo como conversaria com uma amiga querida. Se esqueço um compromisso ou erro alguma conta, me digo que tudo bem. Isso me salva de uma avalanche de sentimentos ruins. Estou aprendendo a celebrar pequenas conquistas, e não só a grande meta alcançada — porque, afinal, cada passinho conta.

Resgatando o autocuidado e a autenticidade

Com essa mudança interna, voltei a me cuidar de verdade. Parei de cancelar minhas aulas de yoga pensando que estava sendo egoísta; pelo contrário, percebi que elas me dão clareza mental. Passei a reservar um tempinho diário só para mim — seja lendo um livro na varanda, seja cochilando 20 minutos depois do almoço — e notei que fiquei muito mais produtiva depois disso, não menos. O autocuidado deixou de ser um luxo e virou necessidade.

Cultivei também a autenticidade. Em vez de dizer “Sim, estou bem” quando não estou, agora não tenho medo de dividir minhas inseguranças. Foi libertador dizer a colegas de trabalho que eu me sentia sobrecarregada e pedir ajuda. Ao confiar um pouco mais na espontaneidade (aceitando até uma TPM ruim, um cabelo fora do lugar, um texto que não saiu impecável), vejo como ganho simpatia: as pessoas se identificam.

Um ponto-chave foi mudar o foco do resultado para o processo. Comecei a valorizar o esforço ao longo do caminho, não apenas o produto final. Como li certa vez: “o perfeccionista positivo valoriza tanto o esforço quanto o resultado”. Antes eu nem percebia as etapas cumpridas, eu só via o alvo ao longe. Agora eu aprendi a saborear cada pequena vitória — seja a satisfação de tirar 10 minutos extra de “eu comigo”, seja concluir um projeto apesar de alguns erros pelo meio. Essa mudança de olhar fez a autocrítica se acalmar.

Também entendi a importância de reconhecer meus próprios limites. Aprendi a dizer não quando necessário. Se minha lista de tarefas estava inviável, pedi por ajuda ao marido ou às amigas (coisa que antigamente eu jamais faria). Vi que isso não diminui minha competência, pelo contrário, mostra que sou humana.

Por fim, venho me lembrando sempre do que Brené Brown escreveu: a imperfeição tem valor intrínseco. Isso me manteve firme: me amar do jeito que sou, sem retoques que uma foto no Instagram sugeriria. Hoje trato minhas cicatrizes — mentais ou físicas — como partes da minha história que me tornam única. Descobri a liberdade de ser autêntica: quando paro de dar explicações e só ajo de acordo com o que me faz bem, encontro paz. Autenticidade virou meu lema silencioso.

Como lidar com erros e se libertar da autocobrança

Se você, como eu, carrega essa vontade de ser perfeita, aqui vão algumas dicas que me ajudaram a desistir da perfeição e a me libertar da autocobrança:

  • Aceite que errar é normal. Repita mentalmente que todos, até as pessoas que você admira, erram o tempo todo. Comece a pensar que cada erro é um degrau de aprendizado. Quando eu esqueci de enviar um relatório, por exemplo, em vez de entrar em pânico pensei: “Ok, vou aprender com isso e não repito a falha.” Essa postura tira o peso do “ter que acertar sempre” e substitui pela leveza do “posso melhorar amanhã”.

  • Pratique a autocompaixão. Trate-se com a mesma gentileza que você teria com uma amiga. Isso significa reconhecer seus esforços, celebrar quando faz algo certo e não se culpar quando algo sai errado. Especialistas apontam que essa atitude é essencial para evitar a autocrítica severa. Eu, por exemplo, agora olho minhas notas no trabalho e digo: “Você fez o seu melhor naquele dia”, em vez de me martirizar pelo que faltou. Isso já me salvou de várias crises de ansiedade.

  • Defina metas realistas. Seja honesta consigo sobre o que é possível em cada etapa da sua vida. Se você tem filhos pequenos, estudos mostram que é quase impossível ser “aquela mãe e funcionária nota 10” ao mesmo tempo. Não se compare a situações diferentes. Pergunte-se: “Eu consigo fazer tudo isso sem enlouquecer?” Se não, ajuste as expectativas. Comigo deu certo dividir grandes desafios em pequenas etapas e comemorar cada conclusão parcial. Assim, o progresso aparece e a ansiedade diminui.

  • Divida tarefas e peça ajuda. Liberte-se do mito de que você tem que dar conta de tudo sozinha. Diga sim a um colega que ofereceu ajuda, aceite delegar tarefas no trabalho ou em casa. Eu comecei a fazer isso — e percebi que nada de ruim aconteceu quando pedi apoio. Isso me ajudou a evitar a sobrecarga e até melhorou meus resultados: com menos estresse, meu desempenho melhorou.

  • Faça pausas regulares. O perfeccionista tende a ignorar sinais de cansaço. Eu mesma cheguei a trabalhar doentia para entregar algo “nos conformes”. Hoje sei o valor de pequenas pausas: levantar da mesa para um café, caminhar cinco minutos na rua, meditar por breves instantes. Por mais óbvio que pareça, essas pausas recarregam a mente e ajudam a encarar tarefas com mais clareza e menos perfeccionismo. Tenha em mente: usar o perfeccionismo de forma positiva envolve encontrar equilíbrio entre alta performance e bem-estar.

  • Celebre cada conquista, por menor que seja. Se fez algo difícil “bem o suficiente”, comemore. Contei que consegui terminar uma tarefa enorme um dia antes do prazo? Comemorei com um banho demorado e minha série favorita. Valorizar esses pequenos triunfos cria um ciclo de motivação positivo, em que não só olho para o que falta, mas também para o que conquistei no caminho. Isso evita cair na armadilha de achar que nunca sou boa o bastante.

  • Aprenda a lidar com críticas saudáveis. Nem toda crítica é uma sentença de culpa. Peça feedback de alguém de confiança sobre o que você fez, em vez de adivinhar que foi “ruim”. Eu descobri que muitas vezes quem recebe um projeto meu não percebe alguns errinhos bobos que me afligiam. Isso me fez entender que a minha autocobrança é, algumas vezes, maior que a cobrança externa.

  • Treine seu diálogo interno. Perfeccionistas costumam ter um crítico interno muito severo. Sempre falam “eu devia ter feito melhor” ou “sou incapaz”. Vá observando esses pensamentos e, quando vierem, tente substituí-los por frases como: “Eu fiz o melhor que pude” ou “Isso não me define”. Com tempo, essa voz interna vai ficando mais amigável. Eu uso post-its com frases positivas no espelho e releio sempre que sinto minha mente pegar no pesado. Ajuda demais!

  • Conecte-se com outras pessoas que entendem você. Conversar com amigas ou colegas que também enfrentam a perfeição me fez bem. Às vezes, apenas admitir que eu errei e ouvir “que normal, já passei por isso” me acalmava. Criar uma rede de apoio, seja terapia de grupo, fórum online ou só um grupo no WhatsApp, pode tornar mais fácil abrir mão da imagem de quem sabe tudo.

  • Invista em autocuidado real. Faça algo que alimente o seu corpo e alma sem culpa: cuide da alimentação, exercite-se sem obsessão, durma direito e relaxe. Muitas vezes achei que parar para isso era vaidade, mas hoje sei que é respeito próprio. Praticar coisas como meditação, yoga ou terapia me ajudou a cuidar da mente, enquanto atividades simples como ler um livro à luz baixa ou ouvir música relaxante recarregam minhas energias sem me culpar por “perder tempo”.

A cada dica que coloco em prática, descubro que viver sem essa pressão é mil vezes melhor. Agora finalizo o trabalho no prazo, mas sem aquela batida cardíaca doentia por querer ser impecável. No espelho, tento ver progresso em vez de falhas. Cada erro é apenas mais um passo que me trouxe aprendizado, não um recado dizendo “você não deu conta”.

Conclusão inspiradora e convite ao amor-próprio

Desistir da perfeição foi um presente de amor-próprio que eu não sabia que precisava. Hoje, me cuido de forma gentil e realista. Estou longe de ser perfeita — e estou feliz por isso. Descobri que nada na vida precisa ser irreparavelmente certo para ser valioso. Como diz Brené Brown, eu mesma entendi que arrastar o escudo da perfeição só me escondia da vida. Abrir mão desse peso me revelou que sou capaz de coisas muito maiores quando me trato com compaixão e autenticidade.

Quero muito que você também se dê esse presente. Reflita: o que você pode abandonar em nome do seu amor-próprio? Quais cobranças injustas você carrega e que tal deixá-las ir hoje? Compartilhe suas experiências! Aqui é um espaço acolhedor. Conte nos comentários se você já enfrentou a luta contra a perfeição — talvez outro passo corajoso tenha feito seu dia mais leve. Ao dividir nossas histórias, ajudamos outras mulheres a perceberem que não estão sozinhas nessa jornada.

Saiba que a busca pela perfeição, assim como eu descobri, não é uma prova de força, mas um convite para descansar um pouco a armadura. Liberte-se da autocobrança excessiva um dia de cada vez, celebrando cada erro como um ensinamento. Você não precisa ser perfeita para ser suficiente. 😊 Compartilhe essa mensagem com quem você acredita que precisa ouvir isso, e lembre-se: juntas somos mais fortes. Com leveza e amor-próprio, cada uma de nós pode dar o melhor de si — e ser feliz com isso.

E você? O que vai deixar para trás hoje em nome de se amar mais?

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